Tuesday 24 January 2017

Elisa

As pessoas geralmente tem alguma noção do assunto quando se trata dos clássicos universais da literatura. Alguém já viu uma pintura tratando do rapto das sabinas, uma escultura com um homem musculoso, todo distorcido tentando escapar da fúria de duas serpentes, que ameaçam e cumprem a promessa de assassinar seus dois pequenos filhos. Tampouco deve-se desconsiderar a música e o cinema, os desenhos animados da Walt Disney e outras produções cinematográficas que resgatam os mitos, trazendo o deleite e a paixão de volta à nossa sociedade. Todos conhecem um trecho de algum poema épico, uma citação, uma passagem marcante.
Falar dos clássicos é trazer aquilo que existe de mais singelo e humano dentro de uma sociedade, considerando o pressuposto de que a literatura contribui para a formação do caráter individual, forma a moral e delineia a ética dos sujeitos inseridos em um contexto histórico.
Os medos, as angústias, os erros, a humanidade sintetizada em versos. Os clássicos tem o poder de transmitir aquelas emoções eternas de nossos iguais. A solidão, a tristeza, a vingança, a raiva. O ciúmes e o rancor, a hipocrisia, a inveja; não há um clássico em que estas e outras emoções não sejam pintadas vivamente, o que nos atrai, nos educa, nos ensina que a vida pode ser complexa e a medida certa das coisas, um tipo de arte que além de causar prazer cumpre a mais alta função pedagógica dentro de qualquer sociedade: educar a alma em um sentido estético de apreciação da beleza.
E impossível conhecer um sujeito que nunca ouviu falar de uma história da bíblia ou do alcorão. Da mesma forma, mesmo indiretamente, sabemos das histórias de Homero, Hesíodo e de Virgílio. Se a humanidade tem algo em comum, que pode ser compartilhado por todas as tribos em todas as épocas, é a capacidade de criar fantasias capazes de aniquilar a realidade e trazer os corações mais distantes próximos um do outro. A capacidade de se entreter, de ter compaixão com uma criação artística demonstra que todos os povos são capazes de amar e sofrer.
Essa empatia pela representação da vida humana é necessária dentro de um contexto social onde os humanos estão cada vez mais desconfiados uns dos outros, tendo medos, paranoias e preconceitos. Em algum momento de sua vida o homem precisa de uma distração que lhe sirva como prazer mas que ao mesmo tempo possa educá-lo no sentido mais alto da vida, e eis onde surge a literatura.
O espectador de uma tragédia ou de uma epopeia precisa fingir que acredita naquela criação, do mesmo modo que o autor fingiu criar aquelas histórias, essa dupla representação, do leitor e do escritor, cria um elo entre ambos, um elo sublime que os conecta à toda a história da humanidade.
A partir disso apresenta-se diante de nós a bela história da Rainha de Cartago, Dido, também chamada por Elisa. O amor, tratado de forma tão superficial pela hodiernidade é composto com sublime labor por Virgílio, e em alguns versos somos tomados imediatamente por uma criação de um suposto amor que poderia ter acontecido a qualquer um de nós. (ou que desejaríamos nunca ter acontecido).
Para discorrer sobre o modo como o herói Eneias fugiu de Troia, passou pela Trácia e fundou uma cidade chamada Eneia, navegou pelo sul da Grécia pelo Mar Jônio, fundou uma cidade chamada Castrum Minervae no extremo sudeste da península itálica, chegou até o vulcão Etna na Sicília, a seguir pelo vulcão Érix até finalmente aportar em Cartago, e depois seguiu sua viagem pelo sudoeste da península itálica, indo até o submundo na cidade de Cumas até a fundação de Roma, é necessário, antes, parar em Cartago.
Os Livros II, III e IV são dedicados a esta passagem do herói troiano pela cidade de Cartago, onde Eneias torna-se hospede da rainha Dido e lhe conta as terríveis histórias do cerco de Troia pelos aqueus. Ao contrário do que se costuma imaginar, é na Eneida, e não na Ilíada onde se conta o episódio do Cavalo de Tróia construído por Epeu, causa da ruína da cidade do rei Príamo. Parte desta história do Cavalo de Troia também é contada na Odisseia de Homero, especificamente no Canto VIII. O famoso mito do sacerdote de Apolo, Laocoonte, também é contado na Eneida, e não na Ilíada como muitos costumam afirmar.
A Eneida trata do mito de fundação de Roma por Eneias, ainda que a cidade fosse anteriormente designada como Lavínia, nome de uma mulher pela qual Eneias teve de lutar por, e casar-se com ela, e por fim cognome da cidade primitiva de Roma. Mas antes de Virgílio, Homero já havia profetizado esta façanha do herói troiano. Cumprindo a profecia de Homero presente no Canto XX da Ilíada, o autor romano, Virgílio, escreve o poema épico, A Eneida. A profecia de Homero está nos versos 334-341 da edição da Ilíada em língua inglesa traduzida por Ennis Rees 1963-2005:

It is surely already decreed that Aeneas shall outlive
The war, so that Dardanus' seed may not die and his line
Disappear, since Zeus adored Dardanus more than he did
Any other child he had by a mortal woman.
For now Cronos' son has come to despise the house
Of Priam, and surely the mighty Aeneas shall soon rule
The Trojans, and after him the sons of his sons, 
Great princes yet to be born.

Ou os mesmos versos em língua portuguesa na Tradução de Manoel Odorico Mendes:

Salvemo-lo, que Jove há-de agastar-se
De o ver extinto. É fado que a progênie
Permaneça de Dárdano, a mais cara
Prole que de mulher teve o Satúrnio;
A geração de Príamo ele odeia:
Quer pois que Eneias reine, mais seus filhos,
E os que dos filhos procedendo forem.

A supracitada profecia de Homero trata da fuga do herói Eneias de Troia e a subsequente fundação do Império Romano pelo herói, dando continuidade a linhagem dos troianos. A Eneida é um livro mítico e histórico, no qual eventos que eventualmente ocorreram são pintados com os mitos, como por exemplo a descendência da família de Júlio César e Augusto, a qual, segundo a Eneida, deriva de Eneias e da prole Dardânia, descendentes de Júpiter. 
No mito, Eneias é filho de Anquises com a Deusa do Amor, Vênus. Eneias possui um filho com a ilíada Creúsa, chamado Ascânio ou Iulo, donde deriva o nome da gens Iulia/Júlia, a qual pertence o clã de César. Cabe a Ascânio dar continuidade a prole dardânia, fazendo a cidade de Lavínia, futuramente Alba Longa expandir-se e tornar-se Roma, de grandes muralhas:

At puer Ascanius, cui nunc cognomen Iulo
additur (Ilus erat, dum res stetit Ilia regno),
triginta magnos uoluendis mensibus orbes
imperio explebit, regnumque ab sede Lauini
transferet, et longam multa ui muniet Albam. 

(Eneida, Livro I, versos 267-271: Júpiter fala à Vênus)

Júpiter esclarece a origem etimológica do nome Iulo, derivado de Ilium, cognome de Troia. Nos próximos versos, o Deus dos Deuses esclarece para Vênus o porque o povo parente de Heitor dominará a região do Lácio por mais de trezentos anos, até o momento em que a princesa e sacerdotisa Ília dará luz a gêmeos, filhos do deus da guerra, Marte. Estes, por sua vez, são os gêmeos Rômulo e Remo, amamentados pela loba:

Hic iam ter centum totos regnabitur annos
gente sub Hectorea, donec regina sacerdos,
Marte grauis geminam partu dabit Ilia prolem.
Inde lupae fuluo nutricis tegmine laetus
Romulus excipiet gentem, et Mauortia condet
moenia Romanosque suo de nomine dicet. 

(Eneida, Livro I, versos 272-277)

Após o herói troiano navegar pelo Mar Egeu, Mar Jônio e pelo Mar Mediterrâneo, o mesmo passa pela Sicília e aporta em Cartago, onde é acolhido pela rainha fenícia Elisa, e na condição de hóspede, Eneias narra suas peripécias desde a fuga da cidade troiana em chamas, o famoso episódio do Cavalo de Troia, A desgraça do sacerdote Laocoonte, até chegar no norte da África, cidade da também fugitiva rainha fenícia Dido.
A empatia de Dido ou Elisa pelo herói troiano não é fortuita, pois a mesma fundara Cartago após sair fugida da cidade fenícia de Tiro, uma vez que o irmão de Dido, Pigmaleão, assassinara Siqueu, marido de Dido, para usurpar o poder e tomar o trono, em uma trama algo análoga ao Hamlet de William Shakespeare, onde Claudius, irmão do Rei da Dinamarca Hamlet, o envenena colocando tóxico no ouvido do irmão e assim toma o poder político. 
Nos livros II e III Eneias assume o papel de rapsodo e cumpre seu exórdio diante da corte cartaginesa, papel também cumprido por Odisseu nos Cantos IX, X, e até verso 386 do Canto XI na Odisseia, ao narrar suas peripécias para o rei Alcínoo e a rainha Aretê.
A rainha Dido fica encantada com as histórias de Eneias, com seu belo filho Ascânio e pede para o mesmo ficar com ela em Cartago, o que é cumprido pelo herói troiano até o surgimento de um pedido de Mercúrio, que lembra Eneias do seu dever cívico de fundar uma nova Troia, ou o germe do futuro império romano.
A rainha Dido é ferida pela peste do amor, visto não como algo bom, mas como a causa de sua própria destruição. Amor como sinônimo de peste, algo malévolo à saúde o que é descrito em termos líricos pelo poeta romano Virgílio de modo original e sincero. Nos primeiros versos do Livro IV, Dido é apresentada como ferida por uma cega paixão, ela nutre em suas veias uma chaga, e como uma chama incandescente a imagem de Eneias queima em sua mente e seu coração devastado.
De tanto pensar em Eneias a rainha Dido não consegue mais dormir, sofrendo ataques de insônia, e ferida de morte pela flecha de Cupido, Dido fala com sua irmã, Ana, que sofre de pesadelos horríveis e das qualidades excepcionais do guerreiro troiano:

At regina graui iamdudum saucia cura
uulnus alit uenis et caeco carpitur igni.
Multa uiri uirtus animo multusque recursat
gentis honos; haerent infixi pectore uultus
uerbaque, nec placidam membris dat cura quietem.
Postera Phoebea lustrabat lampade terras
umentemque Aurora polo dimouerat umbram,
cum sic unanimam alloquitur male sana sororem:
"Anna soror, quae me suspensam insomnia terrent! (...)

(Eneida, Livro IV, versos 1-9)

A seguir a irmã da rainha Dido lhe dá muitas esperanças sobre como seria proveitosa a união de troianos e cartagineses:

Quam tu urbem, soror, hanc cernes, quae surgere regna
coniugio tali! Teucrum comitantibus armis

(Eneida, Livro IV, versos 47-48)

O discurso da irmã Ana deu ainda mais esperanças para a rainha Dido. Entenda-se aqui neste contexto a esperança não como algo benevolente, mas o contrário disto, como é narrado no mito de Pandora, que abriu a jarra contendo os males que Júpiter ocultara da humanidade, e ao perceber o erro que cometera, Pandora fecha a jarra, deixando apenas um único mal dentro dela: a esperança.
Esta esperança dada pela irmã de Elisa, aviltou seus sentimentos, fazendo a rainha perder o controle de si mesma e cair em um estado algo demente. A ferida causada pelo amor é fatal e se alastra sem ser notada, arde a rainha infeliz, anda vagando pela cidade, sem saber de onde veio, nem para onde vai, comparada a um veado nos bosques de Creta, ferido por uma seta sem sequer perceber. Do que valem profecias, a ciência e a lógica para alguém apaixonado? Eis o início do primeiro verso que começa a tratar da doença amorosa da rainha de cabelos dourados, Elisa:

Heu uatum ignarae mentes! Quid uota furentem,
quid delubra iuuant? Est molles flamma medullas
interea et tacitum uiuit sub pectore uulnus.
Uritur infelix Dido totaque uagatur
urbe furens, qualis coniecta cerua sagitta,
quam procul incautam nemora inter Cresia fixit
pastor agens telis liquitque uolatile ferrum
nescius; (...)

(Eneida, Livro IV, versos 65-72)

A bela rainha fenícia de cabelos áureos  é atacada pelos sintomas da doença do amor. Elisa está apaixonada até os ossos por Eneias: ardet amans Dido traxitque per ossa furorem, Livro IV, verso 101. Não consegue mais se comunicar com outras pessoas devidamente, interrompe por vezes o discurso sem terminá-lo, absorvida que está pelos pensamentos profundos em Eneias. Elisa geme por ver-se solitária dentro do quarto, na ausência de Eneias é como se ele estivesse ainda presente, a paixão extremada faz Elisa ter alucinações, ver e ouvir tanto o herói troiano como seu filho Ascânio. As consequências dessa paixão é o descaso com os deveres cívicos e políticos de rainha, pois Elisa deixa a construção das torres inacabadas, os jovens não mais praticam exercícios físicos, todas as obras de Cartago paralisam-se como o coração absorvido da rainha:

sola domo maeret uacua, stratisque relictis
incubat: illum absens absentem auditque uidetque
aut gremio Ascanium, genitoris imagine capta,
detinet, infandum si fallere possit amorem.
Non coeptae assurgunt turres, non arma iuuentus
exercet portusue aut propugnacula bello
tuta parant; pendent opera interrupta, minaeque
murorum ingentes aequataque machina caelo.
Quam simul ac tali persentit peste teneri
cara Iouis coniunx nec famam obstare furori, (...)

(Eneida, Livro IV, versos 82-91)

A seguir, Dido fará parte de um joguete das deusas Juno e Vênus, cuja trama consiste em criar uma condição favorável para que o casal enamorado possa satisfazer o apetite erótico. A ocasião é uma caçada entre nobres do povo de Troia e do povo de Cartago, onde Juno faz cair um temporal de água obrigando o casal a se esconder numa caverna, onde ao final consumam o ato do amor, deixando Dido ainda mais inflamada pelo dardânida teucro:

Speluncam Dido dux et troianus eandem 
deueniunt. (...)
Ille dies primus leti primusque malorum
causa fuit; (...)

(Eneida, Livro IV, versos 165-6 e 169-170)

A Fama, deusa das fofocas e dos mexericos espalha a notícia do relacionamento dos apaixonados por toda cidade, o que deixa um pretendente de Elisa, Jarbas, enciumado, levando o mesmo a fazer uma prece para Júpiter. O filho de Saturno ouve as preces de Jarbas e logo envia seu filho mensageiro, Mercúrio levar uma mensagem para o filho de Anquises, cujo conteúdo é a afirmação da construção de um império na Itália, o qual levaria muito longe a progênie dos troianos na direção de todo o planeta e com leis para reger tal império, o famoso direito romano.
Eneias recebe a mensagem e fica com medo da divindade mensageira, a princípio, e em dúvida sobre como dizer a Elisa que deve partir. Eneias quer ficar ao lado do grande amor, mas o dever o chama do alto do Olimpo e o herói troiano é obrigado a fazer uma escolha, onde o dever é mais importante que o querer.
Eneias manda seus capitães das naus Mnesteu, Sergento e Seresto aprontarem as naves e o povo de Troia em segredo, sem que a rainha de cabelos loiros perceba. Enquanto isso Eneias é atormentado pela dúvida: Como fugir de Cartago sem magoar Dido? Mesmo com todo o sigilo e os auspícios dos guerreiros troianos para tornar a fuga o mais discreta e menos dolorosa possível, Dido acaba por desconfiar dos planos de Eneias. Quem pode iludir um coração que ama? (Quis fallere possit amantem? Livro IV, v. 296)
Mais rápida e horrenda do que todos os deuses, A Fama entregou o segredo de Eneias para a rainha fenícia. Dido começa a ficar furiosa com a situação e ao encontrar-se com Eneias o chama de rompedor da fé criada por ambos (pérfido). Eis a triste forma como Elisa aborda Eneias após ter sido informada do segredo da partida:

Dissimulare etiam sperasti, perfide, tantum
posse nefas tacitusque mea decedere terra?
Nec te noster amor nec te data dextera quondam
nec moritura tenet crudeli funere Dido?

(Eneida, Livro IV, versos 305-308)

Após ouvir todos os queixumes de Dido, Eneias continua obediente aos mandados de Júpiter, mantinha ele os olhos fixos no chão e com muito esforço guardava sua emoção, seu verdadeiro amor por Dido em segredo, guardado dentro de seu peito. Alfim Eneias pede para Elisa parar com as brigas, parar de agravar as mágoas de ambos pois ele não busca a Itália por gosto ou prazer, mas porque é o seu dever:

Desine meque tuis incendere teque querelis;
Italiam non sponte sequor.

(Eneida, Livro IV, versos 360-361)

Quando Dido começa a perder o controle total de si mesma, quando coração e razão já não funcionam e no auge do seu delírio deseja até a morte de Eneias, Mercúrio astucioso aparece para Eneias em um sonho e diz para ele fugir o mais rápido possível de Cartago, pois Dido está completamente desvairada, desta vez expressando os sintomas mais nefandos da doença do amor. Mercúrio desperta Eneias durante a madrugada e diz para o herói troiano vencer a preguiça e preparar as naves para partir, e diz que toda mulher é volúvel (Heia age, rumpe moras. Varium et mutabile semper femina, Livro IV, v. 569-570)
Em sua atalaia, a rainha dos cabelos dourados, Elisa, vê a frota troiana partir de Cartago, afastar-se da praia, estendidas as velas e então chega até a apoteose da sua fúria, bate no próprio peito com força, tenta em um golpe de raiva arrancar os próprios cabelos. Nos versos 590 a 629, Elisa pragueja, deseja a morte de Eneias e de seu filho Ascânio, deseja ardentemente que Eneias seja morto e que seu corpo fique insepulto, como o terrível presságio dos primeiros versos da Ilíada de Homero, Elisa faz preces para Juno, os deuses infernais e as Fúrias, enfim, perde completamente o ânimo de vida, tornando-se sombra daquilo que um dia fora. Amor cruel, o que não podes causar no coração da humanidade? (Improbe Amor, quid non mortalia pectora cogis? Livro IV, v. 412)
Dido então pede para a irmã Ana chamar uma feiticeira e fazer arder uma grande fogueira no palácio, sobre o pretexto de fazer uma oferta para a Deusa infernal Hécate. A pressuposta fogueira do encantamento amoroso não passa de mero ardil de Dido com a irmã, sua intenção, talvez até ela mesma desconheça, cega que está e severamente ferida pelo amor. Quando surge o momento propício, Dido, completamente fora de si, deixa seu corpo cair sob a espada que Eneias a presenteara, e alfim seu próprio corpo na fogueira.
No Livro VI, onde Eneias faz a sua catábase, ou seja, sua descida aos infernos, acaba por encontrar a alma de Dido nos Campos Lugentes, lugar do inferno reservado para as  almas vítimas das infinitas veredas da triste peste do amor, e lá, Eneias também encontrou outras almas como a de Prócris e Fedra, também a alma de Erifile e ainda Pasífaa e Evadne, além da bela Laodâmia.
Eneias tenta buscar as melhores palavras para tentar falar com a infeliz alma de Elisa, mas ela já não está mais ali, não estava em vida e agora muito menos. Elisa agora é como uma sombra irritada, sequer olha o amado nos olhos, sempre com o olhar fixo na terra, Elisa não se deixa abalar nem por um instante pelas palavras de Eneias, parecendo mais ter sido esculpida em mármore de Marpesso:

Talibus Aeneas ardentem et torua tuentem
lenibat dictis animum lacrimasque ciebat.
Illa solo fixos oculos auersa tenebat
nec magis incepto uultum sermore mouetur,
quam sira dura silex aut stet Marpesia cautes.

(Eneida, Livro VI, versos 467-471)

Carlos Henrique Barbosa - Elisa ou Uma breve releitura sobre o amor










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